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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Insensé, Still 'Bout a Goose in Toulouse

Durante muitos anos o livro "Um Ganso Em Toulouse" foi uma espécie de referência nas minhas investigações gastronômicas na França. 
Escrito pelo jornalista americano Mort Rosenblum, de alma francesa adquirida pelo tempo que morou nesse país, "A Goose in Toulouse" (título original...) me levou a lugares do interior da França (que provavelmente eu nunca teria ido...) como a pacata cidade de Pont-l'Évêque, que produz um queijo de mesmo nome, apenas para jantar num restaurante, o inesquecível L'Aigle d'Or. 
O queijo Pont-l'Évêque, cuja textura é parecida com o famoso brie porém com um toque de avelã, eu já conhecia (e gosto muito...), mas sinceramente nunca pensaria em passar uma noite numa cidade do interior da Normandia apenas pela fama de seu queijo. Mas fui, seguindo a dica do tal restaurante que Mort Rosenblum, com uma escrita bem descritiva e apaixonada, dedicou um capítulo de seu livro.
Sim, esse livro realmente me ensinou muito sobre os franceses e sua gastronomia e também me levou a restaurantes muito interessantes.
Um dia, no ano de 2008, recebi um convite pra tocar na cidade de Montpellier. Era o ano em que comemorava-se 50 anos da bossa nova e varios artistas, brasileiros e franceses participariam da "Bossa Nova Fête Ses 50 ans"... quanta honra, eu abriria o show com um piano solo. Uma grande felicidade mesmo, mas uma coisa logo me veio a cabeça quase que simultaneamente ao convite: Os irmãos Pourcel.
Jacques e laurent Pourcel são dois chefs, irmãos gemeos, que abriram em 1988 na cidade de Montpellier um restaurante chamado Les Jardin des Sens. Em 1998 já estavam devidamente classificados com tres estrelas do guia Michelin.
Como eu sabia disso? Mais uma vez, o livro do Rosenblum.
Estrelas Michelânicas a parte, fazia tempo que eu sonhava em conhecer o trabalho desse duo de irmãos.

Reservei uma mesa... Mas não imaginava que os compromissos que envolviam o show (sound check etc...) no dia anterior do evento se estendesse tanto o que me levou a cancelar minha reserva. O trabalho em primeiro lugar...
Mas, "ha malas que vão pra Belém", e foi aí que eu fui parar no Insensé.
Insensé é um restaurante um pouco mais despojado, digamos assim, com um preço mais "agradável" e pilotado pelos mesmos irmãos do Jardin des Sens cuja comida é coisa sempre muito séria.

Mme Flottante, fã de carteirinha do Insensé desde então (temos voltado anualmente pra tocar...), dessa vez em 2010, começou os trabalhos com um crème brûlée de foie gras aux figues, mélange de jeunes pousses à l'huile de noix... Uma mulher que pede uma coisa dessas só pode mesmo ser muito fina.
Eu, diante de tanta finesse de CamÎle Flottante, pulei a entrada e parti pra grosseria: poitrine de veau braisée et caramélisée au miel épicé, écrasée de pomme de terre aux cébettes... a carne desmanchava de tão macia... délicieux.
Mme Flottante seguiu com um tartare de boeuf classique assaisonné par nos soins, pommes frites, salade.

Dividimos a sobremesa. La poire vigneronne aux amandes, glace au miel.
Momento tenso... Não é todo dia que nos deparamos com uma coisa dessas.


39, boulevard Bonne Nouvelle
34.000 Montpellier, France
tel: 33(0)4 6758-9778



quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um Outro Alain...

Alain Ducasse... Esse fez escola mesmo, literalmente. Sua École de Cuisine em Paris está pra gastronomia, assim como a Berklee College of Music para a música... Duas artes, duas escolas. Ambas de alto nível.
Já estou de olho nele faz tempo. Afinal, não é a toa que um chef consegue chegar à uma constelação de catorze-estrelas, my deep respect.
Além do mais, Alain Ducasse é um empresário de mão cheia, pois orquestrar 21 restaurantes onde trabalham 1.400 pessoas pelo mundo, não deve ser muito fácil. Só em Paris são 10 casas sob sua batuta.
Eu venho evitando os famosos restaurantes estrelados pelo guia vermelho Michelin (duas e três estrelas...) porque, numa cidade como Paris, a gente não precisa pagar por talheres de prata nem por toalhas de linho e muito menos aturar garçons esnobes pra comer bem.
Abro algumas exceções, vindas de dicas de amigos etc... Geralmente me arrependo. Mas veja o que eu ouvi, de um chef importante e erudito no assunto: "Na França, em geral, vale a pena conhecer os restaurantes que tem apenas uma estrela pois a equipe estará dando todo o combustível pra conquistar a segunda estrela. Não são caros e a comida sempre maravilhosa..."
Foi com isso na cabeça que no ano passado eu fui conferir o Aux Lyonnas (espetáculo!!) e dessa vez fui parar no Benoit, outro bistrô "Ducasseano" com apenas uma etoile.
Mme Flottante, uma séria apreciadora de cassoulet, se esbaldou. Claro, no Benoit tem um dos melhores de Paris... é um dos orgulhos da casa.
Dizem que a primeira impressão é a que fica... Pois bem, os aspargos que pedi na entrada (primeira foto lá em cima..) marcaram à ferro na minha memória a imagem do Benoit. Os gougères, aqueles pãezinhos de queijo franceses (de queijo Gruyère, derretem na boca...), também ajudaram muito a concretizar esse fato.
Enquanto Camîlle se deliciava entre as brancas favas de feijão que envolviam a suculenta carne de pato em seu prato, eu esquecia do mundo por conta da seriedade do Joue de Boeuf d'Aubrac, que vem a ser a bochecha do boi, uma carne de textura tão tenra que dispensa a utilização da ferramenta cortante oficial, a faca (e o molho?!)
Dividimos uma torta de limão que, exposta à dois metros de distância da nossa mesa, parecia me encarar durante todo o almoço... A vida, ao menos em Paris, tem seus momentos corretamente doces...

Benoit
20, rue Saint-Martin 75004, Paris
tel: (01)4272-2576
métro: Châtelet

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"Meus Chefs Preferidos", Frédéric De Maeyer

Você já ouviu falar em piano a gás?
É uma expressão usada pelos chefs franceses quando se referem com uma peculiar intimidade ao fogão.
Eu "vesti a camisa" dessa expressão. Já virou até o futuro nome do meu livro (ou o nome do meu futuro livro...).
Achei "a minha cara"... Sou pianista e adoro me arriscar nas artes do forno e fogão, então já é.
Quando ouvi meu amigo, cantor e compositor (e também ótimo cozinheiro...) Paulo Da Luz, morador da cidade de Nimes, contar essa história do piano a gás, agradeci no ato... Sem querer, ele acabara de batizar o título do meu futuro livro... Em grande estilo.

Esses artístas do "piano a gás" merecem todo meu respeito. São como compositores e instrumentistas, sabe? Eles criam pratos que devem ter harmonia e bom gosto (nos dois sentidos...) e executam diariamente esses pratos, como um pianista num concerto que se joga na música, aplicando suas técnicas e toda sua emoção a cada dia.
Então, my deep respect pra esses geniais artístas que nos proporcionam tanta alegria e prazer.
Pra começar essa nova série "meus chefes preferidos", vou homenagear um chef de altíssimo nível, um grande artísta e amigo, monsieur Frédéric De Maeyer.

Tive o grande prazer de conhecer Fred (acho que posso chama-lo assim...) quando fui pela primeira vez almoçar no restaurante Eça, no centro do Rio.
O restaurante fica no subsolo de uma loja da H. Stern, descendo por uma charmosa escada em espiral.
Não preciso nem dizer que a partir daquele dia, virei um habitué.
O restaurante Eça é sem dúvida um dos melhores do Rio de Janeiro e Fred, que comanda o "piano a gás" da casa, não deixa a peteca cair, nunca.
Muito criativo, Fred ao mesmo tempo que mantém seus clássicos no menu, nunca para de se renovar, sempre "inventando" novas preciosidades.
Aparece com 'surpresinhas" criadas na hora, coisa de mestre, de um artísta que precisa sempre se expressar da melhor forma possível com sua arte.

A linda foto abaixo, tenho que admitir, roubei da internet.
Não tinha crédito, mas gostei muito. Vou usando aqui até clicar eu mesmo uma outra foto da equipe do Eça para substituí-la (espero que o autor não me processe... pardon)
Fred, Deise e Nina numa foto roubada da internet.
Camîle Flottante concorda comigo em gênero, número e grau.
O Eça é o tipo do restaurante que a gente logo pensa, naquele dia especial, quando queremos comemorar alguma coisa, ou simplesmente quando queremos comer bem... Especialmente bem.
Antes da minha recente viágem pra Europa, resolvemos almoçar lá.
Devo dizer também, que o Eça é um pacote de felicidades.
A Deise Novakoski, sommelier (e amiga desde os tempos do Mistura Fina na Lagoa..), faz parte do time da casa, assim como a Nina Ramos, nossa querida amiga que comanda o salão com muito estilo e competência.
Somos tratados a pão-de-ló, como diria minha avó.

Mme Flottante começou com uma linda salada criada na hora pelo chef: chèvre, figos, palmito e brioche.

Pra mim, Fred preparou um foie gras sobre mousseline de grão de bico e cogumelos paris (de chorar de bom...)

Camîle, que andava faminta, seguiu com um cherne com pure de baroa (um clássico do Eça)

Meu prato principal: um liguine na tinta de lulas com frutos do mar criado na hora pelo chef... A foto abaixo explica melhor.

Não quero (e nem devo...) parecer simplório nas minhas tentativas de definições dos pratos do chef.
Importante ressaltar que, quando eu falo "linguine na tinta de lulas com frutos do mar", eu não menciono o molho, que pra mim, é de grande importância (quanto mais feito pelo Fred...). Mas será que eu teria competência pra descrever um molho do chef De Maeyer? Acho que não, portanto, me perdoe caro leitor, mas procure "entrar" na fotografia" e imagine você mesmo... Como se estivesse apreciando um quadro de Matisse num museu de Paris, ou melhor, de alguma cidade da Bélgica, país que generosamente nos presenteou com o Frédéric De Maeyer.

Eça
av Rio Branco, 128. Centro, Rio de Janeiro.
tel: (21)2524-2401 e 2524-2399

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Chez Georges, Paris

Na minha recente temporada em solos franceses, cheguei por lá munido de uma lista (nada pequena...) de bistrôs a conhecer.
Tem sido assim.
Eu passo o ano estudando a França... Livros, internet, amigos do ramo (chefs de cuisine e alguns locais...) enfim, quando chego por lá, a lista é sempre grande. E ela vai acumulando a cada ano porque eu não consigo "cumprir" nem de longe a minha "meta".
Pra você ter uma ideia, dessa vez a lista contava com cinquenta e nove bistrôs só em Paris.
Bem, é claro que em cinco dias na cidade, seria mesmo impossível essa tarefa.
Mas tudo bem, vou peneirando aqui e alí e passo o pente fino. Cinco deles eu teria que ir... Questão de honra e profissionalismo.
O Chez Georges foi um dos cinco. Ainda bem.
Já fazia um tempo que ele tava na minha lista e, por alguma (feliz) razão, dessa vez ele não me escapou.
Quando eu digo que "estudo" a França e seus bistrôs, meu trabalho não é apenas anotar os nomes e endereços dos mesmos. Eu leio o menu, procuro saber os pratos mais interessantes de cada casa, vejo relatos de quem já provou o prato tal, e se possível, tento conhecer um pouco da história do chef que comanda a casa em questão.
Coisa de profissional mesmo, pardon.
Então você não imagina a minha felicidade, quando chega o tão esperado momento que eu sento à mesa acompanhado da minha querida Camîlle Flottante e orquestro todos os pedidos.
eggs mayo
A entrada que dividimos (e quase houve briga...) tinha que ser os "Oeufs Mayonnaise".
Essa iguaria já estava escolhida antes mesmo de eu comprar as passagens para a França.
Eu gosto de ovos. Acho que a galinha existe pra isso... Por mim a galinha viveria muito mais (dispenso a carne da ave..) e quando os ovos encontram uma maionese maison de primeira, aí a coisa fica séria.
mille-feuille
Escolhi para Mme Flottante uma belíssima carne que, a julgar pela performance da francesa da mesa ao lado, enquanto fingia prestar atenção no monótono assunto do casal a sua frente, devorava a dita cuja com a seriedade de quem não come a dois dias, já dava pra perceber... Estávamos no caminho certo.
O "Coeur de Filet Grillé Bearnaise" fez bonito, mas foi com a sobremesa que Camîlle se emocionou... Que mil folhas (!!!)... Faz toda a diferença o croquant da massa e o crème vanille quando falamos de um verdadeiro "Mille-Feuille".
sole georges
O "Sole Georges" também bem já havia sido escolhido praticamente dois meses antes da viagem.
Eu, amante do linguado das águas do Atlântico norte, comi de joelhos.

Chez Georges
1, rue du Mail 75002
tel: 33(01)4260-0711
métro: Bourse

domingo, 28 de novembro de 2010

La Mère de Vinaigre

Esse mundo da gastronomia é um eterno aprendizado. Veja por exemplo que interessante essa história que aconteceu recentemente comigo.
Estava num almoço de domingo na casa da minha elegante sogra quando M. J. , uma amiga querida, me surpreendeu com a seguinte pergunta:
_você conhece a mãe do vinagre?
_mãe de quem?
_do vinagre
_ué... mas não é o vinho? Ah, mas aí seria o pai.. Hum, não conheço.

Devo ter ficado com uma cara de ponto de interrogação no meio da testa, mas M. J. com toda a propriedade de quem sabe o que está falando, me contou a deliciosa história de como um bom vinagre deve ser feito:

"A fabricação do vinagre, produto da acetificação, pode ser artificial ou natural, resultado da fermentação do vinho ou de outras soluções alcoólicas. O depósito da fermentação, concentrado ao longo do tempo em membrana gelatinosa, cuja espessura se adensa na superposição de novas camadas gelatinosas, folha sobre folha, era retirado pelos produtores de vinagre a fim de fermentar os tonéis destinados ao vinagre. Nas regiões vinhateiras, a "mãe do vinagre" (nome pelo qual é conhecida a concentração dos micodermas da fermentação - Mycoderma aceti) é passada de pai a filho depois que se proibiu, na França, a fabricação do vinagre pelos produtores de vinho."

Veja só... Não é bem a cara da França isso? Tudo é muito protegido, controlado e respeitado.
O champagne só pode ser chamado de champagne quando ele é produzido na região de Champagne. Com o conhaque acontece o mesmo.. Só quando é feito na cidade de Cognac, e por aí vai.
Quem produz vinho não deve atrapalhar a vida de quem vive de produzir o vinagre. Assim é a França. Eu acho o máximo isso.

Continuando a história:

"A mãe do vinagre é um cogumelo, um fungo, um ser vivo, portanto. E requer cuidado. Quem o cultiva, torna-se seu protetor. A grande alegria é poder, com o correr do tempo, oferecer aos amigos os 'filhotes", isto é, as folhas gelatinosas que irão produzir mais vinagre, per omnia saecula, saeculorum."

Que lindo isso: "para sempre, eternamente, até o fim dos tempos..."
Depois de toda essa explicação, ma chérie M. J. me presenteou com uma linda "mère de vinaigre" original da região do Mâconnais, na Côte d'Or, onde sua tia, Yvette Bérard, que morava num claustro beneditino, na Île Barbe, em Lyon, tinha vinhas e vinhas a perder de vista.
Já viu que responsa? Quanta honra pra mim, um pobre apaixonado por assuntos gastronômicos... Acho que mereço.

Cheguei em casa, li atentamente as instruções. Entendi que poderia dividi-la em duas parte (uma para vinagre branco e outra para tinto...)
Com muito carinho coloquei uma metade num recipiente e reguei com um belo chardonay da Borgonha e com a outra, arrisquei um vinho da casta baga, um Luis Pato de Portugal.

Querida Maria J.,
Espero que em breve, o rico "bouquet" que se espalhará pela minha cozinha, seja a inspiração para uma bela salada a ser temperada com o próspero vinagre que voce me proporcionou... E que compartilhemos ao redor de minha mesa.
merci beaucoup

Alain G.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Paul, Alex, Dalva e Dito... Maybe I'm Amazed?

Fui parar em São Paulo por conta do show do Paul McCartney.
Havia prometido a mim mesmo, desde que comprei o ticket em 1990, quando Paul veio tocar pela primeira vez no Brasil, que o dia que ele voltasse por essas bandas com sua banda, eu estaria lá, na platéia reforçando o coro das músicas que fazem parte da trilha sonora da minha vida.
O que aconteceu na época, foi que fiquei com o ticket na mão e não pude comparecer ao concerto. Estava em plena tour com uma famosa banda brasileira, na função de tecladista, quando inventaram de marcar um show no interior de Minas Gerais no mesmo dia. C'est la vie... Primo lavoro, como diriam os franco-italianos.
paul cantando live and let die
Mas "Hey Jude's" à parte, o papo aqui é gastronomia, e como já estava em São Paulo, fui conferir o novo restaurante de outro ídolo meu: o chef Alex Atala.
Acompanho Atala desde muito tempo. Não tanto tempo quanto acompanho Paul e os Beatles, até porque Atala nasceu em 1968, ano em que os rapazes de Liverpool já estavam as voltas com meditações trancedentais na Índia ao lado do polêmico Maharishi. Portanto, eu tinha onze anos quando Atala nasceu, já que eu nasci em 1957 e se me lembro bem, minha meta nesse ano era pedir um dinheiro ao meu pai para comprar um disco chamado "Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band".

Mas não vou ficar aqui falando do ano de 1968, da Swinging London, nem do album branco (que foi gravado nesse mesmo ano...) e sim de toalhas brancas e talheres prateados.
Já gostava muito do Dom, seu premiadíssimo restaurante, e quando soube que Atala andava às voltas com uma nova casa também em São Paulo, focada numa comida bem brasileira, pensei: next time in Sampa eu estarei lá, assim como havia prometido estar no próximo show do dono da cadela Martha (my dear...) no Brasil.
a cozinha
E o destino aproximou Paul, Alex, Dalva e Dito, pois mr McCartney não veio ao Rio dessa vez, o que me fez ir à São Paulo, coisa que sempre me agrada pela real abundância de ótimos restaurantes.
O cardápio é realmente muito interessante e o ambiente ultra clean com mucho bom gosto.
Mme Flottante escolheu a moqueca capixaba, o que eu achei uma boa idéia. Estava deliciosa. Gosto muito desse prato quase que principalmente por causa do pirão... Amo um bom pirão, e é claro que no D e D não poderia deixar de ser maravilhoso. Gostei de ver o garçon despejando gentilmente a farinha de mandioca no caldo de peixe, enquanto mexia com a colher na panela de barro, numa linda performance para a execução do bendito pirão.
pirão de peixe
Parti então para o bife à milanesa (crocantíssima milanesa... das melhores que já comi) que normalmente viria acompanhado de uma salada de batatas, mas pedi pra trocar pelo pure de batatas, que vem a ser outra coisa que quando bem feito eu choro, como se estivesse ouvindo "Yesterday" live.
O bife vem em quantidade bem generosa mesmo (como reza o cardapio...) o que me forçou a pedir um pouco mais de pure (no que me atenderam muito cordialmente..) pra que parte da carne não se sentisse só, sem acompanhamento no prato, tamanha delícia estava o bendito e devorado pure.
bife à milanesa
bacalhau do seu dito
Gostei de saber também o porque do nome... Estrela Dalva e São Benedito, padroeiro dos cozinheiros.
Mlle Clair de Lune me surpreendeu quando disse ao garçon que gostaria de conhecer o Bacalhau do Seu Dito (uma linda posta do peixe assado com mini legumes, ovo caipira, azeitona, azeite e alecrim). Não é que ela raspou o prato? Fiquei surpreso pela segunda vez por conta desse fato, pois ela anda um tanto  assim, digamos,  meio sem apetite por conta de uma nova paixão... Maybe I'm Amazed?    
                                                                                                                                                                       Dalva e Dito
rua Padre João Manuel 1.115, Cerqueira César, São Paulo
tel: 55(11)3068-4444

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ze Kitchen Galerie, Paris

Essa vida de gourmand não é mole não. 
Hay que ficar antenado... Principalmente quando se trata de uma cidade como Paris.
Outro dia mesmo, num papo com Chico Buarque perguntei:
_Chico, qual o bistrô que você gosta de frequentar em Paris?
_Olha, eu gosto de sair andando e entrar em qualquer um... algum com uma cara simpática.
_Hum... Funciona. Até porque, é difícil comer mal por lá, né?
_É, até acontece as vezes, mas geralmente a gente acerta.
Bem, papo vai e papo vem, consegui finalmente a informação que queria do nosso querido "brazilian blue eyes"(ou seriam "green eyes"?), resposta:  L'Ami Jean Bistrot.
Puxa, esse é um dos cinquenta e nove bistrôs da lista que acabara de levar pra conhecer em Paris.
Isso mesmo. Cinquenta e nove... E todos com suas devidas informações sobre o que pedir e tudo o mais.
Levando em conta que minha estada na cidade teria a duração de cinco dias (!)... Bem, não sou bom em matemática mas minha calculadora me diz que eu teria que comer em onze ponto oito bistrôs por dia.
Meu estômago não aguentaria, muito menos meu bolso.
Pois é, vida dura essa de gourmand.
Fiz então uma seleção de cinco deles que eu não poderia deixar de ir, e entre eles estava o Ze Kitchen Galerie.
Essa foi uma dica do meu amigo Carlos Eduardo Pinho, que vem a ser o diretor de comunicação Michelin da América do Sul... É bom ter amigos do ramo.
E Cadú acertou em cheio.
O lugar é muito interessante. Decoração moderna e de muito bom gosto, ambiente maravilhoso e muito bem frequentado (pessoas bonitas...) e uma comida feita por um chef de primeiríssima, William Ledeuil.
Ledeuil consegue dar um toque sutil de tailandia e especiarias do oriente com muita propriedade e bom gosto.
Frescor, essa é a palavra. Produtos da estação, tudo com aquela cara de que foi colhido na horta.
Mme Flottante ficou animada. Escolheu tão rápido seu prato (bouillon thai, poulpe, crevettes, gingembre confit...) que fui obrigado a eleger o vinho (Chablis Grand Cru...) com muita firmeza pra não ficar pra trás.
bouillon thai
cabillaud de ligne
Prato e vinho de madame escolhidos, aproveitei o Chablis (eu sou prático...) e parti tranquilamente pra minha escolha: cabillaud de ligne, vinagrette kalamenji, jus d'un curry thai.
Ambos pratos divinos... E fui feliz na escolha da ampola, o Chablis foi mesmo uma ótima ideia.
A sopa de castanha foi a primeira coisa que me chamou a atenção nos desserts. Conferi e gostei mucho.
sopa de castanhas
Monsieur Ledeuil é mesmo um craque.
Saímos de lá na disposição de uma caminhada... Estávamos a poucos passos do Sena.
Nada como a brisa da noite na cidade Luz.

Ze Kitchen Galerie
4, rue des Grands Augustins 75006
te: (01)4432-0032
métro: Saint Michel e Odéon

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Le Lutrin, Avignon...Ten Years After

hotel d'europe, Avignon
Voltar à Avignon depois de dez anos é uma indescritível felicidade.
Quando eu e Mme Fottante resolvemos incluir Avignon no roteiro dessa viagem à Europa, não tive duvida: Hotel D'Europe. Esse é daqueles que você de sente em casa (mesmo indo uma vez a cada dez anos...).
É chique, sem duvida... Chique no sentido real da palavra...O chique verdadeiro, sem excessos de informação visual...Coisa do velho mundo, com muita propriedade e bom gosto.
O cafe da manhã é um must. Nada de champagne no balde, acho isso meio over pro horário em questão (e olha que eu gosto do produto...), mas o croissaint, os queijos, o oeuf à la coque et ses mouillettes, o yogourt (!!) tudo de grande qualità.
oeuf à la coque 
Bem, mas e o Le Lutrin?
Descobri esse restaurante passeando pela cidade velha de Avignon contados dez anos atrás.
Na época, o frio era mais intenso (ah.. o mistral.. brrr..). Avistamos o Le Lutrin e nem pensamos duas vezes...Cardápio na máo, a soup à l'oignon parecia implorar por mim e por Mme Flottante, fiel companheira da vida e das mesas.
O vinho foi sugerido pelo garçon: cotes du Rhone, Domaine de la Presidente 1997.
Pura poesia... O vinho e a sopa.
soup a l'oignon, Le Lutrin
A sopa de cebola é um exemplo da genialidade dos franceses: pão dormido, queijo e um belo caldo de carne... Aquele caldo profissional. Tudo muito bem aproveitado por um povo que passou por duas grandes guerras e leva a sério a arte do piano a gás.
Bem, dez anos depois, aqui estamos... Eu e Mme F. no mesmo Lutrin com a mesma sopa e o mesmo vinho (dessa vez uma safra de 2007...).
hotel d'Europe
Tudo igual... Bem, emoções à parte, depois de alguns goles, o piano de Maurice Ravel parecia soprar em meus ouvidos melodias de um modo dórico na altura de mi bemol.
Será que o compositor do Concerto Pour la Main Gauche esteve por aqui se deleitando com a soup à loignon? Peut-Être... Qui sait num mistral de 1905.
Impressionniste...

Le Lutrin
3, Place du Palais 84000 Avignon

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cenas Cariocas #1...Charles, Le Roi des Fines Herbes

Eu, um ex morador de Ipanema, fico feliz quando me deparo com esses protagonistas das "cenas" cariocas.
Nos 60's e 70's, quando ainda morava com meus pais, corria pra rua ao ouvir o grito do famoso "Kokadyr", uma figura clássica de Ipanema.
Kokadyr, um homem alto vestido de branco e com um turbante (também branco...) sobre sua cabeça, era o vendedor de cocadas... Não era qualquer cocada.. Era a cocada do Kokadyr.
Rezava a lenda que sob seu alvo turbante, Kokadyr transportava ervas... Ervas das que normalmente não se come, digamos assim. Seria a cocada apenas um "desbaratino" para o seu negócio principal sob seu enigmático turbante? Não sei, provavelmente não... Lendas de Ipanema.
Hoje, andando em Ipanema, me deparei com o Charles.
Charles é uma figura que percorre o Rio de Janeiro empurrando um carrinho com suas ervas (essas verdadeiramente comestíveis...)
Parei pra conversar enquanto analisava a riqueza de seus produtos:
- Voce entrega em Laranjeiras?
- Sim, claro. Na verdade eu parto de laranjeiras... Sigo pra Botafogo depois Copacabana, Ipanema e Leblon.
- Puxa, é uma bela caminhada...
- Sim, mas isso é apenas a metade do roteiro.
- Ah é?
- É, porque depois eu volto pra Laranjeiras.
- Caracas... Desde quando voce faz isso?
- Ja faço ha quarenta e cinco anos...
- Que maravilha... E qual é o seu nome mesmo?
- Charles
- Charles de que?
- Charles.. Não tá bom? Não é um nome lindo?
- Com certeza.. Vou levar o cartão.
E lá se foi o Charles, rumo ao final do Leblon.
Passo aqui o contato do Charles respeitando os dizeres de seu cartão:

"PREZADOS CONSUMIDORES, solicitem suas encomendas pelo tel: 9419-7664 ou 2765-0989"

Chez Lu et Lalas... Que Vengan las Botellas

le boeuf bourguignon
Alexandre Lalas e Luciana Plaas são dois amigos queridos e formam uma dupla muito especial.
Ele, um connoisseur de vinhos, jornalista (http://www.winereport.com.br/), letrista, fã de Vinicius de Moraes (desde criança...) e com um discurso tranquilo e certeiro quando o assunto é vinho.
Ela, formada em gastronomia e vinho pela Leith's School of Food and Wine de Londres, também é boa na caneta... Colaborou com Danusia Barbara na feitura dos guias Danusia Barbara 2009 e 2010.
Conheci o casal no ano passado quando promovi uma degustação com a querida sommelier Deise Novakoski em minha casa.. Deise, amiga minha e do casal, fez as honras.
Taças a parte, gostei de cara da onda deles... Não é a toa que desde então, volta e meia nos reunímos ao redor de algunas botellas.
vinho húngaro da casta irsai oliver
Outro dia eu dei uma conferida na minha adega e dei de cara com o Era dos Ventos, um vinho bem interessante (uva peverella...) que havia comprado no restaurante da Roberta Sudbrack.
Passei por lá pra comprar um caldo de legumes quando o Braz, sommelier da casa, me adiantou que ainda tinha no estoque algumas ampolas daquele vinho que eu havia gostado muito certa feita por lá... Levei duas.
Servi uma no jantar que fiz pra Rita Lee e simplesmente esqueci da existência da outra.. Talvez porque normalmente, ela teria sido abatida na mesma noite (coisa que não aconteceu...) mas o fato é que quando avistei a dita cuja, lembrei do Lalas e da Lu.
Alguns dias depois, recebi um convite pra almoçar na casa deles e lá fomos nós... Eu e Camille Flottante com o Era dos Ventos em punho.
O tipo de programa que me deixa feliz... Comida de primeiríssima, vinhos idem e papos deliciosos.
Fomos recebidos com um espumante muito interessante mas, distraído, não anotei o nome e nem tirei uma foto.... Como a séria série de vinhos a seguir foi "profissional", minha pobre memória me traiu. Mas não esqueço as ponderações do mestre Lalas: "é muito interessante esse espumante mas acho que eles tem que aperfeiçoar a perlage.. as bolhas estão um pouco grandes ainda...". Palavras de quem conhece o assunto.
Luciana já foi chegando com uma salada ultra deep de cubos de salmão "cevicheados" com lindas folhas de alface que "grooveou" lindamente com o espumante e abriu caminho pro Era dos Ventos.
Em seguida, ela me aparece com um boeuf bourguignon de uma perfeição ímpar.. A carne estava deliciosa e com uma textura espetacular... E as batatas? Coisa muito séria... E lá vem o Lalas com duas ampolas de rouge, ambas da casta pinot noir. Um francês e outro australiano.. Ô vida dura...
Em seguida bebemos um vinho tinto húngaro (só conhecia os de sobremesa...) da uva irsai oliver, surpresa muito boa.
Mas a Luciana teve mesmo a quem puxar. Sua mãe, dna Rosita, foi quem assinou a autoria do quindim (foto abaixo...) tão gostoso, que deixou até mme Flottante (que não é lá de dar bola pra doces mas é boa de papo...) muda enquanto repetia a segunda porção.
o quindim da dna Rosita
Terminamos os trabalhos com um bordeaux parrudo...
Dizem que pra conhecer bem o mundo dos vinhos a gente deve beber, beber muito.
Que vengan las botellas!!

merci beaucoup queridos Luciana e Alexandre!