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quarta-feira, 24 de março de 2010

Um Rio de Janeiro Além da Bossa e do Choro



Bem lembro, ainda criança passeando com a minha mãe, quando entramos certa vez no antigo Centro Comercial de Copacabana (acho que no segundo piso..) pra tomar um suco onde talvez tenha sido a primeira casa desse ramo no mundo. 
Será que já existia isso antes? Uma casa com aquela fartura de frutas brasileiras batidas na hora? Acho que não.
Alguns anos depois, inaugurava o "Le Bon Jus" na Praça General Osório... Pertinho da minha casa (pra minha felicidade..). Era lá que eu tomava meu café da manhã antes da praia... Um suco (de manga, talvez...) e um sanduba de queijo minas fresco... E bóra pro Castelinho, no 8.
Um tempo depois, o Balada no Leblon era o point da galera no final da noite (nos dias "não" de chope...)
O Balada ainda está lá no mesmo endereço, assim como o Bibi (que ainda abriu outras lojas pelo Rio...) e também o bom e velho Polis Sucos em Ipanema, na Praça da Paz.
Nicolas Krassic, grande músico e amigo, é um devoto das casas de sucos cariocas. 
Violinista de formação erudita, com forte experiência também nas águas do jazz, Nicolas deixou para trás a França, sua terra natal, e por afinidade musical veio morar no Rio. 
Hoje é uma das autoridades do nosso choro e forte presença nas noites da Lapa.
Monsieur Krassik já domina a lingua portuguesa tão bem quanto o repertorio de Pixinguinha e Ernesto Nazareth.
Gosto muito de provoca-lo com temas de sua vinda definitiva de Paris para o Rio de Janeiro: 
"Como voce conseguiu abandonar aqueles vinhos, os restaurantes, os 360 tipos de queijos e a super pâtisserie française?" E ele é rapido na resposta: "Ah, mas lá não tem as nossas casas de sucos". 
Bom, deu pra sentir que o coração do francês se abrasileirou mesmo... Também, tocando o choro como ele toca... Só pode ter sido carioca na outra encarnação.

Outro dia, ligo a TV e me deparo com a Marilia Gabriela entrevistando o chef Alex Atala e a querida Roberta Sudbrack. Sou fã dos três... Um momento em especial me chamou a atenção naquela conversa, quando a Marilia perguntou para o Alex: "Se voce tivesse que escolher, qual seria a sua última refeição?". E ele diz que seria uma fruta... Para ser mais preciso, a manga. E ainda explica que a fruta é a síntese da perfeição... Um belo presente da Natureza. Marilia completa o papo falando que quando ela come uma manga, ou alguma outra fruta, ela pensa: "É, acho que Deus existe".
Não é genial isso? Eu me identifiquei inteiramente com eles. Por diversas vezes, eu também relacionei a perfeição de uma fruta com a existência de Deus.

Hoje rolou um revival... Andava nas ruas de Ipanema pela manhã (às voltas com operações bancárias...) quando aconteceu um lindo momento de sincronismo da minha fome com o Polis Sucos... Estávamos de frente um para o outro. Não tive dúvida. Pedi um de manga e fiquei admirando a humanidade rumo ao 9...

sábado, 20 de março de 2010

Chez Alain I

Gosto de cozinhar. Isto não é novidade alguma.
Volta e meia, posto por aqui algumas das minhas investigações do forno e do fogão.
Mas todo esse trabalho de criação e execução dos sabores de nada adiantaria se eu não tivesse com quem dividir essas sensações.
Sem demagogia: sentar ao redor de uma mesa com pessoas que curtem essa arte é o maior prazer para um chef como eu.
às vezes, me pego deitado na cama desenvolvendo em minha mente alguma receita... E geralmente coloco em prática alguns dias depois.
Ontém foi assim. Convidei alguns amigos (do ramo...) para alguns tapas e afins.
O creme velouté de baroa no copinho ja é um must por aqui desde que o chef Gabriel De Carvalho implantou certa vez essa delícia. 
Na versão do Gabriel, uma cebola caramelisada é colocada no fundo do copinho sob o creme. Ontém fiz sem a cebola e acrescentei fatias de amêndoas torradas sobre o creme. Também funcionou muito bem... Acho que uma textura "croc" é sempre bem vinda.

Para testar a flor de sal aromatizada com vinho da uva merlot (que comprei com o Gil da Cobal do Leblon..), servi colherzinha de mouseline de inhame com alguns grãos dessa especiaria... Gostei muito (amo inhame...) e parece que todos também.

O mesmo creme de inhame usei para cobrir um copinho com uma lagosta no vinho branco com creme de leite fresco, poivre, páprica picante e curry.


Como não dispenso um soufflé, fiz ontem de aspargos em ramequins individuais.

Pra terminar o evento, o plat de resistance" foi um risoto de funghi secchi, pilotado à quatro mãos pelas chefs Andréa Tinoco e Luciana Plaas... Foi de comer ajoelhado.



Tudo isso regado com belas ampolas que posam na foto abaixo:


terça-feira, 16 de março de 2010

De Bem Com Fasano Al Mare...



Quando fui pela primeira vez no Fasano Al Mare, gostei de cara e impliquei na saída.
Explico melhor para não deixar uma impressão equivocada:
Nada mais lindo do que a praia de Ipanema, entre o Posto 8 e o Arpoador... Sou suspeito (morei até meus 23 anos perto dalí...), carioca da gema com orgulho.
Quando soube que estavam construíndo um hotel nessa área, e que o designer francês Philippe Starck estava envolvido nessa empreitada, fiquei feliz... O Rio de Janeiro merece gente séria e de bom gosto contribuindo pra sua arquitetura. Afinal, esta é uma das cidades mais lindas do mundo (beleza natural, bien sur...) sem dúvida. Porém sua arquitetura é um desastre.. Está longe do que merece e já foi melhor no passado.
Olhando uma fotografia da Avenida Rio Branco, no começo do século XX, fica clara essa conclusão.. O Rio antigo tinha um "Q" de Paris... Mas, aos poucos, aqueles lindos prédios foram sendo substituídos por outros de gosto duvidoso... Porque fazem essas coisas com o Rio? E ainda deixou de ser a capital do país... Nunca me conformei com isto... Melhor deixar a política de lado.
Mas ao olhar para o Hotel Fasano, com todo seu estilo e modernidade, bem em frente à minha praia de Ipanema, meu coração se encheu de felicidade... Ainda mais tendo um restaurante com os pés e as mãos no mar (peixes e afins com toques mediterrâneos..), o Fasano Al Mare.
Fui conferir.
Sentei à mesa acompanhado de CamÎle Flottante e pedi imediatamente duas taças com borbulhas para brindar esse presente que o Rio ganhou. Gostei do ambiente... Sou fã do Starck.
Mme Flottante partiu para um peixe e eu, Alain Gouste, pedi a lagosta, bien sur.
O garçon voltou da cozinha com a informacão de que as lagostas estavam muito pequenas e que por, esse motivo, o chef resolveu acrescentar mais uma unidade do crustáceo no meu prato pra compensar o tamanho. De fato, eram duas pequenas lagostas. Achei muito elegante (e honesta) a atitude do restaurante, não fosse a chegada da conta, na qual me cobravam um valor maior do que o que estava no cardápio. Reclamei (elegantemente...), mas de nada adiantou. Apenas alguns argumentos que, por mais que fizessem sentido, deveriam ter sido usados antes de eu concordar com o acréscimo do segundo crustáceo.
Talvez eu seja um pouco rancoroso, pois fiquei quase três anos sem voltar ao local.
Mas a vida dá voltas e a gente não ganha nada guardando mágoas e rancores.
Estava eu ontem, um domingo de sol (e depois muita chuva...) passeando por Ipanema, quando num certo momento meu estômago começou a roncar e avistei o belo prédio do Fasano. Pensei comigo: porque não?
Entrei (dessa vez, eu estava só...), pedi uma taça de Chandon e o tartar de atum com aspargos (estes cortados bem finos...) com um tapenade muito delicado ao redor. Confesso que minha mágoa com relação ao Fasano se dissipou imediatamente com a primeira garfada.
A qualidade do atum, a perfeição e o equlibrio dos ingredientes, e o atendimento do simpático Douglas mudaram completamente o meu conceito .... Tirei meu chapéu para o chef Luca Gozzani.
Luca trabalhou no famoso Enoteca Pinchiorri de Firenze, restaurante importante que tive o prazer de conhecer em 1999.
Fui conferir então o linguine de lagosta com molho de tomates e redução do proprio crustáceo e, para acompanhar, uma taça de Chardonnay. O Linguine estava também super... 
Quando acabei de raspar o prato, percebi que minha taça ainda continha alguma quantidade de vinho. Lembrei do tartar de atum e imaginei que iria harmonizar perfeitamente.... Quase num impulso, pedi ao maitre um repeteco do tartar, com a velha desculpa de que vinho não se bebe sem comer.
E eu tentando emagrecer... Ô vida cruel essa de gourmet..

A foto abaixo é de um drink que o barman acabava de criar e me presenteou para aprovação. Uva roxa masserada com Absolut de manga e um pouco de suco de limão... Aprovado com louvor. (adorei o estilo da taça..


Fasano Al Mare
Avenida Vieira Souto 80, Ipanema-Rio de janeiro
tel: (21)3202-4000

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um Vinhedo Na Borgonha

 

Parece um sonho...
Ter uma parcela da produção anual de um vinhedo em Hautes Côtes de Nuits-St-Georges, coração da Borgonha... Pois é... Mas aconteceu comigo e pode perfeitamente acontecer com você.
Tudo começou em 2008 numa viagem à Paris, quando meu querido amigo Jean-Pierre Monier (morador local..) me veio com a seguinte proposta: topas dividir uma cota da produção de um vinhedo na Borgonha? Na hora pensei que fosse brincadeira... Jean-Pierre é chegado a essas vez por outra, mas dessa vez ele não estava brincando.
Ele soube dessa história através de um amigo, que havia se mudado há algum tempo pra Beaune, cidade importante localizada na area dos melhores Pinot Noir e Chardonnay do planeta.


Dividir a cota com Jean-Pierre me pareceu viável para o bolso. Concentrei minhas economias durante um tempo e lá estava eu, um ano depois, fazendo uma degustação no Chateau Villars Fontaine, com o simpático proprietário Monsieur Bernard Hudelot.
Depois de duas horas de brancos e tintos (de excelente qualidade..), fechamos o negócio por pura paixão.
Eu e meu sócio Jean-Pierre temos agora a árdua tarefa de consumir cem ampolas dos vinhos do Chateau Villars Fontaine... Bom negocio? Com certeza! A realização de um sonho não tem preço... E o vinho? Coisa muito fina... Très très bon!! Merci beaucoup Monsieur Hudelot e cheers mon cher Jean-Pierre!

mais detalhes no site : http://www.domainedemontmain.fr/

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mariage Frères... O Chá em Paris


Foi flanando no charmoso bairro do Marais em Paris que acabei conhecendo a Mariage Frères. A casa do chá em Paris.
Chega um momento na vida em que a gente começa a cuidar um pouco mais da saúde. O vinho tinto reduz o risco de doenças cardíacas, aumenta a longevidade, possui poder anti cancerígeno. Bebamos mais vinho tinto então.
Mas e o chá? O verde é rico em flavonóides, substâncias antioxidantes que ajudam a neutralizar os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento.
O chá branco é menos processado que o verde, portanto ainda mais eficiente. Tem o poder de acelerar o metabolismo, ajudando a eliminar a gordura corporal. Ja vesti a camisa.
Na Mariage tem um cardápio impressionante. Chás do Nepal, Japão, China e ainda vários blends de especiarias, vanille e tudo o mais. Chá com pedigree. Coisa muito fina.
No fundo da loja tem um restaurante com pratos especiais harmonizados com chás. Tudo muito bom. Às vezes vou almoçar por lá e aproveito pra comprar um suprimento de blancs et vert... Por aqui não se encontra essas especiarias... Ah! No ano passado descobri outra novidade por lá... O chá rouge. Ainda estou pesquisando seus efeitos... Com certeza, positivos.

Bom, vai aí minha dica: entre um almoço regado a cerveja e um jantar regado a vinho, um chá da tarde na Mariage é uma grande pedida.

Mariage Frères
35 rue du Bourg-Tibourg
75004 Paris
tel (01)4347-1854

quarta-feira, 10 de março de 2010

Açorda de Camarão

                                            
Seria um grande equívoco escrever um blog de culinaria, sem citar a comida portuguesa.
Herdamos muitas informações preciosas dos nossos colonizadores na area gastronômica… O cozido, por exemplo, está entre os dez pratos que eu levaria para uma ilha deserta… Sem falar no bacalhau, no caldo verde, no pão, nos vinhos daquele país e também a açorda.
Na minha primeira viagem a Portugal, fui apresentado à açorda pelos queridos amigos Pedro Cabral e Maria João. Os mesmos amigos que nos acompanharam no El Buli, alguns anos depois. 
Cabral é o português mais carioca que eu ja conheci. Critico gastronomico, sério conhecedor do assunto e excelente companhia numa mesa ao redor de um vinho e boa comida. 
Pedro Cabral nos levou à um restaurante bem tradicional nos arredores de Lisboa, chamado Pão de Trigo. 
Lá, comi uma açorda e fiquei tão encantado que arrisquei reproduzi-la quando retornei ao Brasil. Cheguei perto, mas como estudioso e dedicado na arte da culinaria que sou, pesquisei depois em varias fontes, e passo a voce então a receita clássica lusitana. Repare que eu mantive até o "sotaque" português na descrição do preparo, coisa que Mme Flottante sabe reproduzir muito bem em sua fala.
       
INGREDIENTES

300 gr de camarão vg 
2 cebolas 
2 alhos 
3 tomates 
azeite 
1 folha de louro 
6 ovos 
pão de trigo (cerca de 1/2 kg) 
sal 
pimenta 

MODO DE PREPARO 

Faz-se um refogado com as cebolas, o azeite, o alho, o tomate aos cubos e o louro. 
Depois, introduz-se o camarão ja limpo, e um pouco de água, e deixa-se cozer até apurar.
Corta-se o pão às fatias finas, que se juntam ao preparado anterior, e acrescenta-se a agua em quantidade apenas para absorver o pão.
Abra alguns pequenos buracos na açorda, para se escalfarem os ovos, em lume brando.
Sirva quente. 

Um Giro D'Italia

                                                                                                                      

Tarantelas, tartufos, pães de primeira, azeites, tomates, gelattos, bacallá mantecato... Ah! A Itália!
Quando pisei em solo italiano pela primeira vez, vinha de carro da França, com Mme Flottante ao volante e eu na navegação. Chegamos em St Marguerita, um belo balneário vizinho da linda Porto Fino, Deixamos as malas no Miramare Hotel e corremos em busca de algum restaurante. A fome era grande... Quase nove da noite, saímos andando pela simpática cidade e logo avistamos uma cantina, daquelas típicas, bem a cara da Itália. Adentramos e fomos recebidos por uma bela jovem que nos indicou uma mesa. Um restaurante comandado por uma familia. A "mama" na cozinha e o marido no salão, com a ajuda da filha. Não podia ser mais típico. Pedimos então um spagueti ao sugo com o vinho da casa. Logo serviram um belíssimo pão, que foi deliciosamente abatido com o azeite de primeira que já estava sobre a mesa. 
Pedir o vinho da casa nesses lugares é sempre uma garantia. 
Boa comida é isso. Tudo simples porém todos os ingredientes de primeira qualidade. Sem fantasias, sem truques, apenas alguns segredos, é claro, que são herdados de geração a geração, mas que quando a gente quer mesmo saber, acaba descobrindo.

O molho sugo, a gente sabe: ferva água numa panela e coloque generosamente os tomates, depois de tirar o miolo por cima e fazer uma cruz com a faca, na parte inferior dos frutos. Quando a pele começar a soltar, retire rapidamente para que não cozinhe além do ponto. Coloque em um escorredor e cubra com cubos de gelo. Deixe esfriar um pouco e retire completamente a pele. Faça um corte ao meio, e retire as sementes. Bata num liquidificador, ou processador, com dois dentes de alho, sal, pimenta do reino em grãos e azeite. Volte a mistura para a panela e deixe ferver um pouco.

Mas isso é a Itália. Boa comida, com simplicidade. Se eu tiver que escolher entre a cozinha dessa simples cantina e a sofisticada cozinha do El Buli de Ferran Adria... Hum.. Itália na cabeça.

Em Firenze, certa vez, reservei uma mesa no famoso restaurante Enoteca Pinchiorri. Que era muito chique, eu sabia. Coloquei uma gravata e partimos para o local: via Ghibellina 87. Percebi, logo ao entrar, que o restaurante tinha cara de francês. Pedi então o menu degustation e um vinho Bruno Di Rocca 1995 e depois o Anfiteatro também do ano 1995. Já tinha ouvido falar muito bem da adega desse lugar. Os vinhos eram realmente maravilhosos mas a comida, hum... Me decepcionou um pouco. Mas, me entenda bem, levando em conta o preço, é claro.
Aprendi: na Itália, temos que procurar as cantinas, as tratorias, os restaurantes tradicionais, onde os italianos comem, e evitar esses caríssimos e desnecessariamente sofisticados. Deixe esse departamento para a França, e mesmo assim, cuidado com Paris, pois apesar de ser berço dos melhores restaurantes do mundo, existem distorções. O que já não acontece no interior da França. No interior, geralmente é honesto. Você pode até pagar caro, mas a comida vai estar sempre à altura do que você pagou.


Outra coisa que me impressionou na terra de Ennio Morricone foram os gelattos. Principalmente na área do Veneto e Toscana.
San Gimignano é uma cidade medieval no meio da Toscana, parada no tempo. Fica no alto de uma colina, cercada por uma muralha, e com treze torres que são vistas de longe. Um belo cenário. Aliás, foi usada como locação no "Chá Com Mussoline", um lindo filme, de Franco Zeffirelli.

Ficamos no Hotel Leon Bianco, na Piazza Della Cisterna. Da janela do nosso quarto, de frente pra Piazza, eu podia vislumbrar duas sorveterias. Talvez as duas melhores sorveterias do mundo, ali, naquela cidadezinha medieval. Acho que em apenas três dias por lá, devo ter consumido perto de vinte sorvetes, o que me fez engordar proporcionalmente. É dura essa vida de gourmet.
Estando por lá, vale a pena um passeio até a cidade de Montalcino, terra dos famosos vinhos Brunello. Você pode provar os melhores vinhos fazendo uma degustação em uma enoteca localizada na Fortezza, uma fortaleza do século XIV.

Em Veneza temos uma gelatteria em cada esquina. Todas excelentes. Mas outra delícia que me chamou a atenção em Veneza foram os "Tramezzini". São sanduíches triangulares de pão de forma frios, e com uma super variedade de recheios: atum, alcachofras, ovos, aspargos, tomate com anchovas... Dispense qualquer restaurante durante o dia, fique só nos Tramezzini. À noite escolha um romântico restaurante para jantar mas verifique antes se no cardápio tem o Baccalá Mantecato. Este prato é um must em Veneza: um bacalhau cremoso, servido frio, com uma textura impossível de colocar em palavras. Só provando.

dica: em San Gimignano, Restaurante Le Vecchie Mura (reserve uma mesa no terraço que tem uma vista espetacular)
tel: 0577 94 12 94

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Sol da Noite em Les Baux


Era um noite escura, sem lua…  Uma forte luz em forma de círculo, projetada numa das montanhas de Les Baux, iluminava a aldeia, enquanto orientava nossa caminhada rumo ao local de nosso jantar.
O nome do hotel-restaurante "L'Oustau de Baumanière" estava escrito dentro desse "sol" artificial. 
Les Baux é uma aldeia medieval no alto de pequenas montanhas, Les Alpilles. 
Esse lugar, é daqueles que você, por alguma razão, sente uma energia especial no ar. A cor branca predomina o local, pela forte presença do caucário dessa região. 
Existem muitas lendas de bruxas e fantasmas nas ruínas do castelo de Les Baux, e foi nessa aldeia que Raymond Thuilier, um agente de seguros, resolveu se instalar em 1941. 
Thuilier tinha como hobby a pintura, e achou que a luz desse lugar seria interessante para a produção de seus quadros. 
Sua mãe tinha um café, e foi lá que Thuilier aprendeu muito sobre cozinhar. 
Ele gostava de receber os amigos para comer em sua casa, e foi assim que, em 1945, aos cinquenta anos, ele criou aquele que veio a ser um dos melhores restaurantes do mundo, o L'Oustau de Baumanière. 
Thuilier faleceu em 1993 e seu neto Jean Andrè Charria, assumiu o estabelecimento. 
A casa de fazenda do século 17 abriga não só o restaurante, mas também um hotel. 
Quando eu estive lá, em setembro de 2000, Charria já havia ampliado as instalações, com um hotel anexo, devido ao grande sucesso. Ficamos hospedados nesse anexo, a alguns minutos a pé do restaurante. 
O luxo já começa no quarto. Cama com docel, peças antigas e tudo o mais. 
O restaurante é impecável. Garçons treinadíssimos e eficientes cercados por cristais, pratas e toalhas de mesa engomadas e perfumadas. E a comida… Coisa muito séria. Bebemos um tinto Hermitage 1994, para acompanhar uma série de entradas e pratos que iam chegando e nos surpreendendo cada vez mais. 
Caro leitor, acredito que depois de toda a minha descrição, você deve estar planejando, nesse momento, uma ida pra França, direto à Les Baux. Faça isso mas, independente do que você coma no jantar, não esqueça de pedir o soufflé de pistache na hora da sobremesa.
          A Provence é uma região que deve ser degustada lentamente. Estando por lá, não deixe de visitar St-Paul-de-Vence, outra pérola daquela área. Em St Paul, está localizado o La Colombe d'Or, um hotel que abrigou artistas, como Picasso e Modigliani, que, em troca de hospedagem e comida, deixavam alguns de seus quadros. Várias dessas obras continuam expostas sobre as paredes do hotel. Se você não conseguir vaga no Colombe d'Or, tente o hotel Le Saint Paul, que abriga um restaurante maravilhoso. Avignon é outra linda cidade medieval, daquelas cercadas por uma muralha que também merece fazer parte de um roteiro pela Provence. E ainda tem Aix en-Provence, que é uma das cidades mais animadas da França. Muitos estudantes pelas ruas, e um grande numero de cafés, daqueles que você fica na beira da calcada, admirando o movimento, enquanto degusta um fois gras com uma taça de Sauternes. 

Oustau de Baumanière
route d'Arles, 13520 Les Baux de Provence, France

La Colombe d'Or
Place du General de Gaulle, 06570 St-Paul-de-Vence, France

quarta-feira, 3 de março de 2010

O Termômetro Na Cozinha

Parece que chega ao fim o verão no Rio de Janeiro. Grace Dio!
Eu agradeço. Não tenho mais paciência com calor.
Quando tinha meus 16 anos e morava em Ipanema, era um "habitué" das areias escaldantes.
O posto 8, em frente ao antigo Castelinho, era meu escritório. Lá, a "social" com os amigos ja começava cedo. 
Depois da praia,  uma chegada no velho Jangadeiros na Teixeira de Melo. Chope, atum, salada de batatas com aquela maionese da casa, mais chope e em seguida a gente resolvia aonde ia rolar algum sarau. Ô vida dura...
Mas a gente cresce, a vida vai gerenciando o nosso destino e quando a gente se da conta, a praia ja não faz mais parte do nosso cotidiano, e o verão começa a incomodar. 
Mas Monsieur Gouste...Estás reclamando de que? Voce hoje pode trabalhar num ambiente com ar condicionado, serviço de bordo completo, ice tea, cerveja, e até um espumante vez por outra.
Problema mesmo, é pra quem não tem como escapar desse calor.
Voce já parou pra pensar na turma que trabalha dentro das cozinhas dos restaurantes?
Outro dia mesmo, estava eu batendo um papo com o jovem e talentoso chef Gabriel De Carvalho e abordamos esse assunto.
Gabriel vem fazendo uma bonita trajetória. 
Completou  a faculdade de direito, mas a gastronomia foi mais forte.
Partiu pra Paris, onde estudou no Lenôtre e adquiriu importante experiência no assunto. 
De volta ao Brasil, fez um estágio no Bistrot 66, do Troigros, enquanto se preparava pra entrar no time da CT Brasserie. Depois de um tempo por lá, o Le Vin comprou seu passe, até que veio o convite pra integrar o time do Alameda, restaurante que abre em breve no mesmo local do antigo Carême, em Botafogo. 
O Alameda já tem boa história em Araras e promete chegar com grande estilo por aqui.
Mas e o calor? Pois é, dizia Gabriel...Se na rua faz 40 graus, imagina dentro de uma cozinha com fogões à mil por hora...La situation est compliquée, très compliquée.
É por essas e outras que eu tiro o meu chapéu pra essa turma, e fico feliz quando o termômetro começa a ficar mais generoso.
"Que venga el invierno pronto"
Até porque, vamos combinar que ja tá mais do que na hora de abrirmos as ampolas de tintos.
Ô sede....

segunda-feira, 1 de março de 2010

Aida, Um Japonês Em Paris


Conheci esse restaurante em 2007 com Mme Flottante.
Eram os últimos dias de uma viagem pela interior da França, que certamente acabaria em Paris.
Ainda na Alsace, recebi o seguinte email:
"caro Alain, soube que está a caminho de Paris, e lembrei de um lugar que voce não pode deixar de conhecer. É o Aida, um restaurante de comida verdadeiramente japonesa. Os peixes são fresquíssimos e se voce sentar no balcão, além de comer muito bem, vai se deleitar com o sushiman preparando tudo na sua frente. Depois me conta! abraço, Martin"

Além de ser um querido amigo, Martin é um gourmand de primeira. Conhece bem o assunto.
Uma dica do Martin a gente não deve descartar, absolutamente.
Cheguei em Paris e reservei pra mesma noite, no balcão, bien sur. Deux personnes.
O restaurante é super minimalista e com uma atmosfera inteiramente japonesa.
Lá, comi o melhor atum da minha vida. A lagosta grelhada também valeu a ida no Aida.
Mme Flottante ficou encantada com o chef Koji Aida preparando tudo na nossa frente.
Koji é um trator. Fica sozinho no balcão, e não deixa a peteca cair. O serviço é mesmo impecável.
E como não podia deixar de ser, numa cidade como Paris, o Aida além de tudo, tem uma "très belle carte de vins"

Aida
1, rue Pierre Leroux
75007 Paris, France
tel (01)4306-1418
metro Vaneau